Gabriela Relvas
Nasci no Porto em 1983. A partir daqui, sonhei sempre com quase tudo e nunca com matemática.
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Licenciei-me em 2005 em Comunicação Social, na Escola Superior de Educação de Coimbra, seis meses dos quais em Groningen, nos Países Baixos, para integrar o programa Campanhas de Comunicação Criativa. Formei-me como atriz no ano seguinte, após o curso intensivo de Formação de Atores, na In Impetus, em Lisboa.
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Vivi na capital mais de duas mãos cheias de anos e em 2018 regressei a Esmoriz, de onde sou natural.
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Sou escritora, guionista, atriz e apresentadora. Fiz musicais, teatro, séries, telefilmes, novelas e cinema. Apresentei programas de economia, saúde, entretenimento e cultura.
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Passei pela RTP, SIC, TVI, Record TV, EDP on TV e Porto Canal.
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Continuo a trabalhar neste carrossel.
Livros
Livros
UMA VACA A ARROTAR METANO
Romance
Visgarolho, 2024
«Oh, veio-me uma vontade doida de snifar e lamber os estofos como uma cadela. Dei-me ao desejo naturalmente. Comecei a lambê-los de forma sôfrega. Desde pequena que tenho uma necessidade visceral de sentir o paladar das histórias. Nisto dei conta de uma velha à coca, vestida de preto, com o tempo todo nos olhos e enxada na mão, a lançar-me uma vontade de morte, como se eu fosse a tradução perfeita do horror do mundo: ali, de língua colada à humilhação e de vidro aberto para a rua como se não tivesse vergonha. Dei-lhe tempo (apesar dela já ter o tempo todo nas miras), e deixei que as suas frases me perfurassem por cada dois raios vermelhos que lhe perfuravam também o branco dos olhos. Ont andást nus cops, puúta! Aeé puúta, tenh aqui terren pa tuú cavá inté fazês câll. Aeé puúta, vá pá tuúa térra, puúta! A velha tinha cara de réptil e voz de abutre. Subiu-me um arrepio gelado. O que é que ela estava para ali a dizer? Seria iorubá? Sacudi-me e arranquei, sem perceber porque fiquei inerte, a receber pragas como quem recebe parabéns.»
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(AVISOS: Talvez o leitor deva ficar esclarecido logo aqui, este livro é uma tragicomédia. O gosto adstringente da vida ao som de um compasso. Uma câmera metida dentro de uma cabeça inflamada. Tal qual o mundo. Tique-taque. Acrescento, a boca que conta esta história tem nos lábios um canhão. Por isso, muito cuidado com os ouvidos. E muito cuidado com a imaginação. Trata-se de um superpoder que deve ser bem usado. Mais, não estranhe se vir por aí a autora deste livro disfarçada de nota de rodapé, ou pior, de pijama cheio de manchas de café que acumula um cheiro obsceno a corpo).
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Um romance selvagem e insólito que não pede licença. A autora escreve com uma faca na mão, abre feridas e cospe-as com vernáculos, faz-nos rir em voz alta mas deixa-nos um inevitável gosto a sangue, que muito podia ser nosso. Tudo aqui é enfermo e genial.
GULA DE UMA RAPARIGA ESQUELÉTICA DE AMOR
Romance
Suma de Letras, 2022
Ninguém nos prepara para isto, nem o Júlio calado, nem as lágrimas da Cristina, nem a Odete nua no whisky, nem a sola de madeira no osso, as coisas que nos espantam pouco nos imunizam. É como se viver fosse uma prescrição para pessoas mal preparadas, as bem preparadas não as conheço, serão almas que já aqui andaram e que agora nos veem e troçam de nós de perna cruzada no sofá enquanto passamos o chão a esfregona, fantasmas que penetram a parede da sala para dar à cozinha, abrem a porta do frigorífico e riem da marmelada que não solidificou, cacarejam ao ver o cu de quem metemos na cama, que do nosso já não conseguem rir, e bocejam esta frase pronta a causar dano, Ao que tu chegaste. Aquela noite veio a revelar-se na minha mais incompreensível inaptidão.
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"Neste romance de estreia, Gabriela Relvas vira tudo do avesso numa linguagem frenética, desprovida de regras e carregada de inconformismo. Sara Branco Bizarro, personagem principal desta história, pinta retratos rápidos de uma trama de segredos que emergem dos lugares mais recônditos da sua existência, numa narração insaciável. Gulosa, a rebentar, ainda que vazia; um isco de ingenuidade gordo de antíteses.
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Prestes a fazer quarenta e dois anos, circula no passado por necessidade, põe na mesa a criança que viu o que não devia ter visto.
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Um livro vertiginoso e poderoso sobre o que, por vezes, custa ser mulher."
A ILHA DA FORMIGA
Romance
Coolbooks, 2019
Deixem-me voltar ao narrador, na tentativa de não me parecer tão eu e ficar mais à vontade para falar-me. Talvez por nada particularmente emocionante acontecer, ela, conta que aconteça. Então, à mínima oportunidade, elabora. A Ilha da Formiga estava-lhe atravessada! “Um nome cheio de potencial para ser uma vida inteira!”
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Uma vida inteira aconteceu-me enquanto escrevia. Juntei um mais um. A Ilha da Formiga, um nome extraído do café das 8 da matina, enquanto comia pão de alfarroba com azeite, que mais sabia a chocolate. Noutros cafés, outras coisas. Aconteceu-me a Helena, com a música espanta-merdas perfeita a provocar-me o ouvido. Invadiram-me Bestas, Dias de glória e de Desapego. E dias em que o amor foi Amoras. O narrador nem sempre foi preciso. Aconteceu com o tempo. O tempo tolda-nos os pensamentos ao mesmo tempo que nos põe nus.
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Naquela manhã o nome Ilha da Formiga vestiu-me. Pôs-me pronta. Talvez dê nome a isto, pensei. Este estado de isolamento com mil pensamentos trabalhadores cheios de fome de voz. Alguns a fazerem-me cócegas, outros a foderem-me o juízo. É que isto de viver vai-nos às emoções.
© 2024, Clube das Mulheres Escritoras