Manifesto
Durante demasiado tempo, a literatura foi um território circunscrito, e nós, escritoras portuguesas, sistematicamente afastadas do espaço mediático, ignoradas nos currículos escolares, arrumadas em géneros literários considerados menores. Fomos notas de rodapé, musas involuntárias, as «mulheres de». É hora de tomarmos a palavra.
​
Criámos o Clube das Mulheres Escritoras — cujo nome é uma provocação — para juntar autoras de ficção dos mais variados contextos numa luta comum pelo alcance, reconhecimento e valorização da literatura portuguesa escrita por mulheres, desmontando os preconceitos que a silenciam. Porque, para nós, a literatura não tem género.
​
Apesar de as mulheres representarem a maioria dos leitores do país, continuamos a assistir a uma desigualdade no mundo editorial, que privilegia os autores.​ Por exemplo:
​
-
Um estudo feito em 2022 pela revista Blitz sobre a representatividade de género nos principais prémios literários portugueses revelou que menos de 30% dos premiados na última década foram mulheres. Os jurados continuam a ser maioritariamente homens e um dos prémios com mais prestígio, o Prémio José Saramago, galardoou 10 homens e apenas 2 mulheres, nenhuma delas portuguesa.
​​
-
A visibilidade mediática das escritoras é ainda muito desequilibrada, e uma análise de artigos dos principais jornais indica que se destacam muito mais obras de homens do que de mulheres:​
-
10 melhores livros de 2023 para o Público: 0 autores portugueses
-
10 melhores livros de 2023 para o DN: 5 autores lusófonos, 0 mulheres
-
13 sugestões de Natal de 2023 da Visão: 0 autoras portuguesas
-
7 livros para o verão de 2024 da TimeOut: 1 autora portuguesa
-
Isto traduz-se inevitavelmente nos destaques e nas vendas: em 2023, dos 20 livros mais vendidos de ficção nacional, apenas 6 foram escritos por mulheres.
Tal cenário não reflete uma escassez de talento e, sim, um desequilíbrio estrutural que invisibiliza e desvaloriza o trabalho das autoras. O nosso coletivo surge como resposta a esta realidade, mas também à subvalorização da literatura portuguesa contemporânea diante de obras traduzidas, com consequências perniciosas para a produção literária no nosso país e para autores de todos os géneros.
​
Então, o que queremos?
​
-
Desconstruir preconceitos relativos à escrita produzida por mulheres, consciencializando o setor editorial para os seus próprios vieses;​​​
-
Aumentar a visibilidade da literatura contemporânea escrita por mulheres, tanto nos meios de comunicação social, como nas bibliotecas, livrarias e espaços que celebram a escrita;​​
-
Tornar o Plano Nacional de Leitura e os currículos escolares mais inclusivos a todos os níveis;
-
Contribuir para o aumento dos índices de leitura em Portugal, principalmente no que toca à literatura portuguesa.
Somos mulheres, somos escritoras, e juntas lutamos para que a literatura portuguesa chegue mais longe. Estão todos convidados a juntar-se a esta causa.